Por que o parcelamento do cartão de crédito é uma armadilha?
Você costuma recorrer ao parcelamento do cartão de crédito? Com os juros do rotativo do cartão ficando na casa dos 333,9% ao ano, a suposta facilidade de resolver os problemas de consumo com um parcelamento graças ao dinheiro de plástico pode complicar a vida do consumidor irreversivelmente.
Uma pesquisa feita em 2017 pela Proteste revelou que as taxas praticadas pelas empresas nacionais de cartões de crédito são as mais altas do planeta, chegando a 830% ao ano!
E o pior é que ainda há inúmeros outros problemas silenciosos que ecoam na vida financeira daqueles que se entregam a esse canto da sereia do mercado.
No post de hoje, você vai descobrir por que precisa abandonar o parcelamento do cartão de crédito, aproveitando para aprender sobre as ações necessárias para reorganizar suas decisões de compra estrategicamente. Acompanhe!
Problemas financeiros causados pelo mau uso do cartão de crédito
. Pagamento de juros embutidos
Atualmente, a modalidade mais popular de compra com cartão é o parcelamento sem juros, que responde por 55% de todas as compras fechadas por esse meio. O problema é que essa aparente facilidade oferecida pelo lojista não vem de graça.
O comerciante que vende uma mercadoria com parcelamento sem juros no cartão também recebe da administradora o valor da venda em parcelas mensais, sendo que a primeira remessa só é feita depois de 30 dias.
Reflita: partindo do conhecimento que a maioria das compras feita pelas empresas junto a seus fornecedores também é parcelada, como os comerciantes conseguirão quitar suas dívidas no curto prazo vendendo boa parte de seus produtos mediante parcelamento do cartão de crédito? A solução é embutir os juros no próprio preço final.
Sim, grande parte das mercadorias vendidas no mercado já está com um percentual de juros embutido, destinado a cobrir eventuais compras parceladas no cartão. É por isso que quem paga à vista, em dinheiro, consegue sempre um bom desconto. Assim, além da taxa de administração da máquina de cartão, você também dribla os juros embutidos.
. Descontrole das finanças pessoais
Um levantamento feito pelo SPC Brasil mostrou que 58% dos brasileiros não dedicam qualquer tempo para sistematizar seu orçamento doméstico. Não se sabe ao certo, portanto, quanto foi gasto no mês, quais os rendimentos totais e, principalmente, quais os pagamentos ainda em aberto.
Some a esse nível de desorganização às compras a prazo feitas em períodos diferentes, com valores distintos e parcelas diversas. Qual você acha que será o resultado? Acredite: 62,2% da população endividada.
Quando compramos com cartão de crédito, temos a sensação ilusória de que suavizamos um ônus financeiro e conseguimos realizar nosso desejo de consumo.
Entretanto, quem pensa assim se esquece que, daqui a muitos meses, quando o produto talvez já tenha sido danificado ou consumido, ainda haverá parcelas comprometendo seu orçamento, impedindo-o de crescer financeiramente e, principalmente, enrolando-o com a extensa lista de pagamentos remanescentes.
. Pagamento de compras que já nem existem
A propósito, vale a pena destacar essa questão da efemeridade do consumo. Você vai ao supermercado, faz uma compra repleta de itens desnecessários, gasta mais do que ganha mensalmente e, no caixa, recorre ao parcelamento do cartão de crédito em diversas vezes.
O problema é que a satisfação do agora vai prejudicar sua vida no amanhã. 2 meses depois, você terá que retornar ao supermercado, mas provavelmente não terá mais limite disponível, uma vez que todas as compras foram feitas parceladas ou mediante pagamento do mínimo. E o pior é lembrar que esse comprometimento foi feito para pagar itens que nem existem mais!
. Efeito bola de neve pelo acúmulo de juros
Antes das novas regras de financiamento no cartão, era possível fazer uma compra de 10 mil reais e pagar o mínimo todos os meses. A questão é que, caso fizesse isso, em pouco tempo você teria uma dívida superior a 30 mil.
Com as novas regras do rotativo do cartão, que entraram em vigor em abril de 2017, essa sistemática de estímulo ao endividamento foi dificultada.
Agora, o consumidor só pode fazer o pagamento mínimo de 15% da fatura e por apenas um mês. No segundo, o cliente só tem 2 opções: paga a fatura à vista ou recorre ao parcelamento do cartão de crédito com juros.
Mas perceba que, tanto no antigo como no novo cenário, é bem fácil se enrolar com o cartão. É preciso, assim, estar atento inclusive ao parcelamento sem juros, já que bastam algumas compras para suas dívidas se transformarem em uma bola de neve.
. Mudanças à vista nas regras das linhas de crédito
Além das novas regras de pagamento do mínimo, estamos na iminência de ver o cerco sobre o consumidor se fechar ainda mais com relação às compras parceladas.
O Banco Central estuda um pedido da Associação Brasileira das Empresas de Cartões (Abecs) pelo fim do parcelamento do cartão de crédito sem juros, que seria substituído por uma forma de crediário com pagamento de juros.
Nesse modelo, em vez de esperar 30 dias para receber a primeira parcela, o lojista receberia o valor da compra a vista, no prazo de 5 dias. Se isso virar regra, o consumidor deverá ter ainda mais estímulos para mudar sua relação com o cartão.
Dicas de organização financeira para garantir o pagamento do cartão
. Sistematize seu orçamento doméstico
Para começar, coloque todas as suas receitas e despesas em uma planilha ou em um aplicativo. E pode acreditar: esse simples ato já consegue reduzir um pouco suas despesas. Isso porque há muitos vazamentos financeiros que só são percebidos com essa materialização.
. Faça uma força-tarefa para quitar as dívidas no cartão
Você pode recorrer a amigos para fazer um empréstimo sem juros e, então, amortizar todos os débitos no cartão — cujo montante cresce exponencialmente com a inserção mensal dos juros.
Caso não tenha nenhum conhecido nesse nível de intimidade, uma alternativa é trocar a dívida mais cara (do cartão) por uma mais barata.
O empréstimo com garantia de veículo, por exemplo, é uma modalidade pouco conhecida no país que, por trazer mais segurança às instituições, apresenta juros menores.
. Mude seu futuro financeiro mudando sua mentalidade
A possibilidade de se satisfazer hoje e arcar com o ônus amanhã está impregnada na cultura nacional. Mas o primeiro passo para ver sua vida financeira progredindo é mudar essa forma de pensar, passando a entender a compra como um ato posterior à poupança.
Quer comprar um carro? Separe um percentual do seu salário todos os meses e aguarde juntar o montante à vista para efetivar a compra. Isso o fará ganhar duas vezes: na primeira, por fugir dos juros, e na segunda, por conseguir descontos pelo pagamento único.
. Faça um investimento
Chegamos ao estágio mais avançado do processo de evolução financeira. Já quitou suas dívidas no cartão, já abortou definitivamente os pagamentos parcelados, já adquiriu o hábito de sistematizar seu orçamento doméstico? Então já é possível separar parte do seu salário para fazer um investimento!
A essa altura, saímos da fase de libertação das dívidas para a etapa de acumulação de capital. Você pode fazer isso por meio de uma aplicação em previdência privada, da contratação de um seguro de vida ou por outras proteções financeiras e investimentos focados no longo prazo.
Percebeu o quanto o parcelamento do cartão de crédito pode ser nocivo para suas finanças? Então assine nossa newsletter e continue aprimorando seu nível de educação financeira!