A mulher, as corporações e os sonhos
Hoje recebi a missão de escrever sobre a mulher, seus sonhos e a relação com as empresas, mas de maneira especial a relação que ela estabelece com a empresa ao qual presta seu serviço.
Ao mesmo tempo em que o tema para mim é desafiador, dada a sua relevância e amplitude, é também instigante poder compartilhar minha experiência com vocês. Afinal, desde os meus nove anos de idade, já era latente minha vontade de trabalhar, ter meu próprio dinheiro e ser independente.
Já naquela época fazia meus próprios papéis de carta para vender para as amiguinhas da escola no horário do recreio, vendia figurinhas repetidas, revendia laranjas do sítio do meu pai no portão da casa da minha vó. Fui crescendo e profissionalizando o serviço e o nível das entregas: passei a fazer unha das amigas da minha mãe, pintava panos de prato para vender na quermesse da paróquia, busquei curso profissionalizante de cabeleireira, que muito me ajudou no período em que eu buscava um redirecionamento da minha carreira. Tudo isso paralelo à minha principal atividade como profissional da área de recursos humanos em grandes corporações.
Sempre fui muito influenciada pelas mulheres de minha família. Tive o privilégio de nascer numa família de mulheres fortes e empreendedoras, que sempre trabalharam muito para realizar seus sonhos. Minha mãe, por exemplo, foi a minha maior incentivadora para que eu alcançasse a tão sonhada independência. Quando precisava de dinheiro para comprar algo, ela sempre falava: “Filha, você tem que trabalhar para conquistar suas coisas”. A postura de minha mãe sempre foi um ponto de incômodo para o meu pai que, de maneira machista, apresentava vários preconceitos e defendia com unhas e dentes que eu precisava estudar, que não me faltava nada. Quando eu tocava neste assunto de trabalhar fora, a pergunta era sempre a mesma: “Trabalhar para quê? Você tem é que se estudar e se formar”.
Dada esta dicotomia, hoje tenho a clareza de que fui muito mais influenciada e apoiada pela minha mãe nesta situação. Diga-se de passagem, uma grande mulher, que reúne uma história de vida de muita renúncia e auto superação. Assim, consegui o tão sonhado emprego de carteira assinada. Naquela ocasião, como meu pai era contra, precisei ser emancipada para ter o meu primeiro registro profissional na carteira de trabalho. Minha primeira experiência formal foi numa grande instituição financeira, que me rendeu 12 anos de experiência, pela qual sou muito grata até hoje. Hoje, já se vão 20 anos no mercado de trabalho com algumas lições aprendidas. Dentre elas, além de inúmeros outros atributos, são necessárias muita dedicação, renúncia pessoal e foco caso deseje construir uma carreira sólida e reconhecida no mercado de trabalho.
Outro fator que também é muito importante, mas que nem sempre é bem visto é a ambição. A ambição profissional é algo esperado para os homens, mas opcional ou mesmo negativo para as mulheres. “Ela é muito ambiciosa” não é um elogio na nossa sociedade. A maioria das mulheres que possuem uma postura mais agressiva e que jogam mais severamente neste mercado “transgridem” as regras táticas da conduta social aceitável. Os homens são constantemente aplaudidos por serem ambiciosos, poderosos, bem sucedidos, ao passo que as mulheres pagam um preço social por isso.
O fato é que sou ambiciosa sim, e defendo que quando você canaliza esta ambição para a realização de seus sonhos preservando a essência dos teus valores e respeitando o outro, não há nada de errado nesta concepção. É nisso que apostei quando criei um grupo no Facebook chamado Alô, Meninas. Um encontro de mulheres que querem sim progredir, se empoderar do papel de ser mulher e ter sucesso nesta trajetória.
Outro ponto que merece ser abordado é que geralmente existe a correlação de que se a mulher trabalha muito não tem como garantir a felicidade na sua vida familiar, dada as suas horas de ausência. Este é outro mito. A boa notícia é que nós mulheres não só podemos ter família e carreira, como também ser bem sucedidas nisso. Fácil? Nem um pouco. E quem disse que seria?
O que aprendi, ao longo destes 20 anos de estrada, é que precisamos, com toda a humildade, continuar acreditando em nós mesmas e nos empoderarmos dos papéis que nós mulheres podemos desempenhar nas corporações. Devemos carregar conosco os nossos objetivos, mas sem abrirmos mão das nossas feminilidade, dos nossos valores, da capacidade singular de realizarmos várias tarefas ao mesmo tempo e sermos sempre guiadas pelos nossos sonhos… Ah, os sonhos… São eles que me fazem acordar todos os dias e trabalhar duramente na certeza que hoje eles estão muito mais perto do que ontem.