Mitos e verdades sobre o coronavírus
A pandemia do novo coronavírus (causador da COVID-19) trancou, repentinamente, 4,5 bilhões de pessoas em suas casas, no mundo todo. Identificado pela primeira vez em 31/12/2019, na cidade chinesa de Wuhan, o Sars-Cov2 (agente viral da doença) espalhou-se como uma inundação por todos os pontos da Terra… junto às fake news. Mas com tanta informação desencontrada, como saber quais são os mitos e verdades sobre o coronavírus?
Apenas nos primeiros 5 meses do ano, foram mais de 6 milhões de casos confirmados no mundo, com 357 mil mortes. No Brasil, desde o primeiro caso identificado (25/2/2020) até o 90º dia, foram 418.608 casos, com mais de 26 mil mortes.
O mundo já assistiu a números como esse há 102 anos, com a eclosão da gripe espanhola. A diferença é que, naquela época, não havia sistemas informatizados de produção de conteúdo em massa. Hoje, uma mensagem falsa pode colocar em risco o sucesso de uma guerra sanitária.
Pensando na importância de nutrir a população de informações confiáveis, desmistificamos os mitos e verdades sobre o coronavírus. Acompanhe!
Mitos e verdades sobre o Coronavírus
O perigo de fake news em meio à pandemia
Uma mentira na rede social não é liberdade de expressão e tem consequências que podem fugir do controle. Vale aqui relembrar a convulsão social ocasionada por fake news na cidade mexicana de Venustiano Carranza, em maio/2020.
Espalhou-se pela cidade a informação de que o novo coronavírus não existia e que o prefeito estava usando drones para despejar substâncias tóxicas sobre as cabeças das pessoas, no intuito de envenenar a população durante o isolamento social.
As notícias falsas levaram a população a sair às ruas para saquear e incendiar a prefeitura, destruir casas ligadas aos familiares dos governantes, além de agredir enfermeiros e profissionais de saúde.
Os 7 mitos e verdades sobre o coronavírus
Fake news sobre coronavírus matam e causam desordem social. É por isso que você precisa conhecer todos os mitos e verdades sobre a Covid-19.
1. Existe vacina para COVID-19
Mito (pelo menos até o momento dessa publicação). O mundo tem mais de 100 projetos de vacina contra coronavírus, sendo que um dos mais promissores está sendo desenvolvido no Brasil, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A expectativa é que, até 2022, já tenhamos uma vacina criada e produzida em larga escala, o que, se confirmado, significará um recorde histórico: até agora, a vacina desenvolvida com maior rapidez foi a do sarampo, doença identificada em 1953 e com vacina pronta em 1963, ou seja, 10 anos depois.
2. Os sintomas da doença assemelham-se a um resfriado forte
Verdade. Os sintomas da COVID-19 se parecem muito com os de uma gripe comum. Atente, entretanto, ao eventual impacto causado pela complicação viral, como dificuldades para respirar, dores de cabeça e/ou perda de olfato e paladar, manifestações que devem ser melhor analisadas por um profissional de saúde.
3. Perda de paladar é um dos principais sintomas da COVID-19
Verdade. Cerca de 70% das pessoas contaminadas com COVID-19 apresentam perda de olfato (anosmia) e/ou de paladar (disgeusia). A razão é que há uma alta carga viral no dorso da língua infectada.
O novo coronavírus usa, basicamente, duas proteínas das células para invasão: ACE2 (enzima conversora da angiotensina-2) e TMPRSS2 (protease transmembrana serina 2). O Sars-Cov2 utiliza uma proteína de sua superfície, chamada proteína S (spike), que atua como chave para se juntar à ACE2 e ingressar na célula.
A protease TMPRSS2 segmenta a proteína S em duas partes, facilitando a entrada do vírus. O ponto é que as células olfativas e do paladar são repletas dos genes ACE2 e TMPRSS2, tornando essa região fértil para proliferação do novo coronavírus.
Quando alguém perguntar sobre mitos e verdades sobre o coronavírus, já sabe que essa informação é verdadeira!
4. Calor brasileiro reduz a chance de contágio
Não há consenso. Esse é um dos pontos difíceis de definir entre os mitos e verdades sobre o coronavírus. O Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, em abril/2020, indicou a possibilidade de que o vírus se dissemine mais lentamente em países com temperaturas médias mais elevadas, embora ainda não haja confirmação dessa sinalização.
Segundo os cientistas, na Noruega, por exemplo, os casos explodiram de 40 por milhão de habitantes para 120 por milhão em apenas uma semana. Já na Austrália, que está no auge do verão, no mesmo período, os casos subiram de 15 para 20 por cada milhão.
Outra informação importante é a constatação de que 90% das contaminações mundiais ocorreram em países cuja temperatura média anual não passa dos 11°C. Por enquanto, esse tema ainda segue sem resposta definitiva na lista dos mitos e verdades sobre o coronavírus.
5. Cloroquina e hidroxicloroquina curam COVID-19
Mito (ao menos por enquanto). Anunciada por governantes como “elixir mágico” para varrer a COVID-19 do planeta, a relação entre cloroquina e hidroxicloroquina não encontra (pelo menos até agora) qualquer base científica sólida que nos permita utilizar o medicamento com certeza de cura. Na verdade, estudos profundos dizem exatamente o contrário.
Cloroquina e hidroxicloroquina são fármacos usados no combate a doenças como lúpus, artrite reumatoide e malária. São imunomoduladores (aumentam a resposta do organismo a determinados microrganismos) que apresentam, no entanto, altíssimo risco de uso. Entre seus efeitos colaterais graves, estão alterações cardíacas, convulsões, sobrecarga renal e até perda de visão.
Até o momento, existem 71 estudos mundiais que questionam a eficácia dessas drogas para tratamentos da COVID-19, sendo dois deles das mais renomadas publicações científicas do planeta (Journal of the American Medical Association e The New England Journal of Medicine).
Nessa seara, é importante destacar que a “despublicação” do estudo feito na Lancet, outra entre as mais importantes revistas científicas do planeta (por erros metodológicos que concluíram que o uso da cloroquina aumentava o risco de morte em até 45%), não indica o contrário, ou seja, que o fármaco pode ser usado com eficiência e segurança no combate à COVID-19.
Sobre essa polêmica na comunidade científica, aliás, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que havia suspendido as pesquisas com o medicamento em virtude da publicação do artigo, retomou os estudos recentemente, destacando, no entanto, que o uso da droga permanece sem comprovação científica quanto à sua eficácia. Mais uma informação duvidosa entre os mitos e verdades sobre o coronavírus.
6. O agente etiológico da COVID-19 se multiplica mais rapidamente do que outros vírus da família coronavírus
Verdade. Um estudo na Alemanha constatou que o Sars-Cov2 se prolifera na garganta das pessoas com sintomas leves 1.000 vezes mais do que a Sars (síndrome respiratória aguda grave, que também nasceu na China e matou 800 pessoas em 2002).
Isso transforma a caixa bucal humana em verdadeira arma biológica, o que explica o quanto é importante utilizar máscara.
7. Animais domésticos são os principais transmissores
Mito. Entre os mitos e verdades sobre o coronavírus, essa é uma das principais questões que surgem nos debates científicos: os pets podem pegar e transmitir coronavírus?
A resposta é que isso é muito improvável. Vale lembrar que houve um caso de contaminação de um cãozinho em Hong Kong, mas a informação posterior foi de que o animal tinha baixos índices de contágio, e que sua morte se deu por conta da idade avançada (17 anos) e pela ausência do dono (internado).
Recentemente, um grupo de 13 pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) elaborou um documento explicativo, endossado por mais de 60 profissionais, esclarecendo que o vírus pode até contaminar animais, mas a carga viral é baixa demais para causar algum efeito no bichinho ou transmitir o agente aos seres humanos.
Como você viu, as fake news potencializam a disseminação do Sars-Cov2. Elas confundem, desmobilizam e impedem o acesso da população a orientações que salvam vidas.
Por isso, a recomendação fundamental é se informar apenas por veículos de imprensa profissional ou páginas de seguradoras/operadoras de saúde, evitando seguir instruções de blogs aleatórios ou de influenciadores digitais que, sem qualquer especialização médica, fornecem receitas, opinam sobre protocolos clínicos e indicam caminhos para cura da doença.